Há dois anos escrevi um poema
sobre as sensações
do primeiro beijo na boca
e falhei.
Não consegui o doce calor
e a magia do ato.
Tentei tanto falar
da espera e da primeira vez
que o líquido quente e vermelho
brotou do meu corpo,
mas vulgarizei a marca maior
a marca maior do nascimento da fêmea.
Rasguei envergonhada
um poema sobre a iluminação do corpo
no espelho
quando vesti o primeiro sutiã.
Vi força da imagem e da poesia
mais bela e densa
em um comercial de tevê.
Homenageei as marcas e formas
do meu corpo adolescente
pulsando de cores e luzes
em cada descoberta no espelho.
Ainda sim não consegui
recriar a poesia do adolescer.
Será falha do poeta
ou a poesia pura sufoca
a poesia em palavras?
ELIAS JOSÉ em CANTIGAS DE ADOLESCER
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Eu vi um poeta
vendo a cidade de cima.
Será falta do que fazer
ou será falta de rima?