quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Tempo de Ardente Aprendizagem


Na ocasião do lançamento de Tempo de Ardente Aprendizagem, recordamos também o primeiro ano de partida de nosso amigo Elias José para outra dimensão. Nesse mês também, dia 25, é seu aniversário natalício. Essa reunião de datas reveste-se de um significado especial: mostra-nos que o Elias José não morreu, está vivo em sua obra, incluindo uma obra nova, recém publicada e outras em preparação. Pode até ser que nem todos acreditem como eu, que a vida continua em outra dimensão, mas mesmo quem não acredita, não pode negar que ele está imortalizado em sua obra e na memória agradável que ele deixou em nossos corações. É ótimo que nessa data de um ano de partida, e de aniversário de nascimento estejamos lançando um novo livro dele, porque isso afasta o lamento e a tristeza de não termos mais ele aqui e alivia a saudade. Sobretudo, nos faz vibrar de alegria como ele vibrava quando saia cada novo livro seu. Prezando a literatura como sabemos que ele prezava, a melhor maneira de prestarmos homenagem a ele é lendo, divulgando e festejando a sua obra, como os muitos amigos do Elias em Guaxupé estão fazendo esta noite. Gostaria muito de estar aí com vocês, vivenciando esse momento no qual com certeza o Elias está tão presente, mas infelizmente um compromisso irremovível não permitiu. Agradeço de todo coração o convite afetuoso da nossa querida Silvinha e uno-me a ela, aos filhos e a todos vocês nessa homenagem.

Nas entrelinhas do Tempo de Ardente Aprendizagem podemos encontrar muito do Elias e de sua experiência de vida. O leitor atento que o conhecia verá que entre as muitas criações da imaginação há aqui e acolá toques autobiográficos, como por exemplo, no conto “Um escritor na televisão”, no qual o Elias faz uma crítica à forma como a assim chamada mídia trata a literatura e os escritores de verdade. A falta de atenção da mídia à literatura, seu pouco empenho na difusão da cultura literária e a falta de incentivo à formação de leitores, o próprio Elias sentiu na pele. Mas isso não o impediu de fazer uma belíssima trajetória e de divulgar a literatura nos mais diversos recantos desse país. O Elias era um caixeiro viajante da literatura e tinha um imenso prazer em fazer isso e uma disposição que me chamava à atenção. Até os últimos meses de sua presença física em nosso meio ele foi incansável nessa missão.

Mesmo nos contos que são pura ficção podemos encontrar entre uma linha e outra o Elias nos olhando, nos falando, expressando seu jeito de viver e de amar, suas críticas sociais, sua afeição pelo ser humano, sua sensibilidade nas relações humanas, seu gosto pela vida. Portanto, ler alguns ou todos os contos desse livro é usufruir mais um pouco da presença do Elias em nossa vida.

Os contos são narrativas literárias curtas que dão o seu recado em reduzido número de páginas. A vida humana também é curta, a gente faz de tudo para prolongar. Certamente, se dependesse de nossa vontade, pessoas boas como o Elias permaneceriam para sempre ao nosso lado fisicamente, ou pelo menos 200 anos, como personagem de um dos contos do livro, “O homem videterna”. Mas a vida cumpre seu ciclo. Feliz de quem como o Elias deu um belo recado para a humanidade com sua vida e com o que fez, esses têm uma vida plena de sentido, uma vida que não se apaga. Assim foi o Elias, aquele que abriu de verdade para mim e para tantos as portas da literatura e da poesia. Sua memória é para mim uma suave poesia, algo que me eleva, e tenho certeza que também o é para muitos aí em Guaxupé e para os diversos amigos espalhados por todo o Brasil e para os milhares de leitores que ele ajudou a voar nas asas de seus livros.

Minha eterna gratidão ao Elias, aos familiares; para mim foi sempre tocante a maneira como ele amava profundamente essa família, a quem dedicou a maioria de seus livros. E meu abraço a todos os presentes.

Jakson Ferreira de Alencar

Editor de literatura infantil e juvenil – PAULUS Editora

Cantiga de Amigo

Para Elias José...

Partiste para plagas tão distantes
Que só meu coração acompanhar-te pode

Não queria, amigo meu, vir a enganar-te,
Mas tua ausência acompanha-me por toda parte.

E dentro de meu peito a chama arde
Desse ir-se sem ao menos avisar-me.

E quanto mais os dias passam dias
Tua presença em mim mais aumenta a cada dia.

E quanto mais a lamentar-te eu me lamente,
Mais o lamentar-me em mim é mais presente.

E quanto mais a tua ausência eu a lamente
Mais a cada dia a tua ausência é mais presente.

Aristides Torres Filho - Rio de Janeiro - Inverno de 2009.